A Vida por Outros Olhos

Capitulo 2

    Enquanto Elisa tagarelava sobre uma celebridade que estava horrenda segundo ela- só por está com sandálias que não combinavam com seu colar- me peguei imaginando o que ela tinha que me deixava tão em PAZ já que com a minha própria mãe eu estava em pé de guerra sempre. Sabe ela mexia no ponto em que eu não permitia que ninguém -ninguém- jamais tocasse: meus livros. Ninguém entende -eu sei- mas sim, minha mãe reclamava, brigava por que eu lia livros demais, só que ela nunca percebeu que em 1 ano e meio, exatamente 18 meses eu havia lido 30 livros -eu sei porque conto e tenho a lista pendurada no meu guardaroupa. Ela é daquele tipo que julga o livro pela capa e pelo título, sempre -na minha opinião- fala demais mas nunca perguntou sobre o que falava o livro e isso me magoava mais do que eu queria.
    Eu sempre fui a filha exemplar: sou a nerd da sala - não parece mais acredite- desde a 1ª série, sou 1 ano adiantada - o que me faz me formar na Ensino Médio com 16 ANOS!!!, passo de ano na escola no 3° bimestre, sei cozinhar, lavar, passar, limpar, varrer, tudo desde os 8 anos- porque quando mudamos para outra cidade ela trabalhava e o almoço e a casa ficavam por minha conta e cada vez que ela via alguma coisa no lugar errado começava a criticar. Aos 13 anos descobri livros de romance, que me traziam uma paz tão grande que se tornou um hábito. Fui lendo e lendo e cada vez que ganhava algum dinheiro ia correndo a livraria, e não sei porque isso a  irritava.
    Nesse momento me toquei, olhei no relógio e quase dei em surto, eu precisava ir pra casa -urgentemente- . Eu fiquei agradecida pela Elisa prestar tanta atenção em mim, ela simplesmente falou:
-tudo bem eu te acompanho, quer uma carona?- disse balançando as chaves do novo Porshe, e não pense que não, mas no Rio de Janeiro isso chamava muita atenção mas mesmo assim aceitei.
Praticamente corri para o estacionamento e quando cheguei tive um choque. Sério, para um carro me dar um choque é muito difícil. Mas o carro era preto, discreto se não fosse o insufilme preto e as rodas prateadas e o interior todo em couro bege, estava parecendo aqueles carros de filmes.
-Fecha a boca senão entra mosquito meu bem- eu pude ouvir o sorriso na sua voz.
-Tá. Tudo bem. Não te culpo por ter dinheiro demais, mas existem carros caros bem mais discretos.
- Eu sei!- ela riu- vi uma Ferrari amarela mas esse foi amor a primeira vista- ela começou a dar pulinhos em pleno estacionamento.
No caminho eu fechei os vidros me afundei no banco e tentei me concentrar na música e não nos olhares lançados para o carro.
Cheguei em casa fui direto para o banho, a água quente me acalmava e eu tinha a impressão que eu precisaria ficar calma- não sei porque mas é um sexto sentido- então deixei que a água praticamente me queimasse. Saí do banho, vesti minha roupa e fui ver televisão para dar um tempo e em seguida peguei meu livro, eu estava lendo ELA SÓ PENSA EM DINHEIRO da Cherry Cheva- é tão bonitinho- quando minha mãe chegou olhou para o livro de cara feia e começou
-Eu não aguento isso, isso faz mal. Ler tantos livros faz mal, só que você não ouve! eu preciso te levar a um psicólogo, você vai acabar louca.
Eu em silêncio - não haveria mais sentido discutir- pensei "se você soubesse o quanto esses livros contribuem para que eu fique sã, se espantaria". Ela saiu brava por eu tê-la ignorado, mas se fosse assim uma vez por dia que fosse eu estaria feliz, mas não.  Étoda hora mesmo quando não estou lendo.
Eu amava livros não só porque era bom, mas porque eu precisava. Viver 2 ou 3 dias- tempo que eu levo para ler um livro de 300 páginas mais ou menos- na pele de um pessoa que era amada e a pessoa que a amava não a criticava cada vez que deixa de limpar a casa ou tirar a poeira, era o paraíso. Podia ser só 2 ou 3 dias, mas eram os 2 ou 3 dias mais perfeitos e valia cada grito da minha mãe- em parte porque eu não ouvia e a outra porque eu estava me lixando- mas não valia a mágoa que me causava e para curar isso só mesmo mais livros.