A Vida por Outros Olhos

Capitulo 1

  Eu estava no fogo, tudo estava em chamas ao meu redor, estava quente a minha pele estava grudando e de repente tudo ficou escuro e o grito.

  Eu acordei daquele mesmo sonho, daquele mesmo pesadelo no mesmo de sempre, no momento do grito. Eu estava ofegante e suada, meus cabelos caracolados estavam grudados na minha pele clara e em chamas, me levantei e olhei no relógio na tomada ao lado da minha cama, eram três e vinte e sete da manhã e eu estava ali sentada na cama procurando na memória o porque do grito, mas nada chegava. Decidi levantar e ir tomar um banho gelado, eu estava de férias e mesmo assim era difícil um dia  que eu dormia a noite toda.

  Minha mãe chegou na porta com o cabelo todo desgrenhado- com certeza estava dormindo – e me olhou já sabendo o motivo pelo qual estava ali- aqueles olhos negros não sabiam mentir mas se virou e só falou quando já estava de costas:

-Isis apaga a luz quando sair

  Ela realmente não me entenderia, achava que era só um pesadelo que me chocava e por isso se repetia, mas eu sabia que não era simplesmente isso, haveria muito mais coisa no grito, no som do grito era como se fosse real.

  Um arrepio desceu minha coluna e eu tentei afastar o pensamento - eu sabia que  mais cedo ou mais tarde  ia voltar - e me vestir para sair já eram seis e vinte e a maior parte das lojas do Rio de Janeiro já estariam abertas.

  Eu tinha mais um dia e meio de férias e não sabia o que fazer, então só decidi andar pela praia, eu olhava aquela cidade e - não pela primeira vez - sentia que eu pertencia àquele lugar. Eu olhava o céu azul e o sol começando a brilhar alto e sentia o calor na minha pele clara, me lembrava das estrelas e do céu limpo e aquele sensação de paz me acalmou . No mesmo segundo meu celular tocou e só pelo toque- que era da banda preferida dela “Simple Plan”- eu sabia que era a Elisa, atendi correndo antes que desse motivo para ela falar depois.

-Oi! Até que enfim! Aonde você está? Estou te procurando feito louca - olhei pro meu relógio eram oito horas da manhã! Será que ela não me deixa sozinha pelo menos até as dez!

-Elisa, ainda são oito da manhã. Que horas você acordou pra estar louca me procurando? - eu já sabia que ela tinha a resposta na ponta da língua.

-Não importa quando eu acordei, mas sei que você acordou cedo, não é?

  Eu realmente não acredito que minha mãe pôde me trair desse jeito. Por que ela tem que contar tudo pra minha melhor amiga quando eu é que deveria contar tudo pra ela?

-Não importa. O que você quer?

-Quero que venha se encontrar comigo no shopping da Barra - O que eu fiz pra merecer isso? - Isis, tá me escutando?- Ííí, começou com a voz melosa.

-Estou.

-Por favor eu preciso de você aqui, preciso da minha melhor amiga - era chantagem emocional demais e o pior é que eu sempre caía.

- Estou indo. Tchau.

  Quando eu cheguei no shopping ela estava me esperando na porta da Stillu’s e só por ver onde ela estava eu imaginei pra que ela precisava tanto de mim.

-Que foi? Ficou em dúvida entre o listrado horizontal e o listrado vertical? - ela me olhou com os olhos verdes cheios de ceticismo de repente vi que ela já estava cheia de sacolas, ou seja a parte chata já passara, e o cabelo repicado curto já estava escovado.

-Não, só queria que você almoçasse comigo.

-Com essa eu fiquei boquiaberta.

  Duas horas e meia. Sim foi esse o tempo em que fiquei conversando com Elisa. Lógico que eu nem tinha coragem de tocar nos nomes de livros que eu tinha lido mas era bom discutir se o cabelo Chanel engordava ou não o rosto e se valia a pena usar ou aposentar as sandálias gladiadoras. Eram assuntos fúteis  -para mim-  mas me tiravam os pesadelos e os problemas familiares da cabeça.